Nos últimos meses tenho amadurecido uma ideia que poderá ser vista como utópica por uns ou megalómana por outros: Sou benfiquista há muitos anos e desde tenra idade que me habituei a fazer o caminho para a velhinha Luz, ou pela mão do meu pai ou ,já mais garoto, com um grupo de vizinhos liderado por um mais velho que tinha paciência de guardar o rebanho. Vi muitas alegrias, algumas tristezas, celebrei muitas vitórias e nem consigo contar as horas de passei a ver o Benfica.
Com o passar dos anos a paixão, como em todas as relações, amadureceu e passou a ser algo menos intenso mas mais sólido, como aqueles casamentos quando celebram as bodas de ouro. Foi com tristeza que assisti à reforma compulsiva de alguns ídolos de juventude pela mão do “Rei Artur” e ao decair do Benfica após 1995. Na altura das eleições que colocavam Manuel Damásio contra Vale e Azevedo, não tive dúvidas que um presidente cuja gestão tinha sido ruinosa para o clube não podia continuar. Envolvi-me em alguns eventos de campanha e depositei os meus votos, tal como tinha feito na eleição do Sr. Jorge de Brito, em Vale e Azevedo. E abriu-se uma Caixa de Pandora.
Para muitos a direcção desse presidente foi a pior do Benfica. Eu, pessoalmente, sempre achei que o princípio do fim começou com Damásio mas Vale e Azevedo colocou mais uns pregos num caixão que, lentamente, se fechava sobre o futuro do Benfica. Da mesma forma que o elegi, também me empenhei na vitória de Vilarinho, numa tentativa de corrigir uma opção menos feliz que tinha tomado nas eleições anteriores. A meio do mandato o nosso presidente eleito resignou e passou a pasta ao homem forte do futebol, Luís Filie Vieira, que com um discurso cativante mobilizou os Benfiquistas.
Depois, como presidente, as decisões polémicas foram-se acumulando. Começaram com o ingresso de José Veiga no Benfica, passaram pela entrada de elementos mais próximos de clubes rivais e culminou com o assumir da pasta do futebol na nefasta época de 2007-2008. Os resultados desportivos estão à vista e, infelizmente, o ciclo que começou com Damásio não tem fim marcado.
Com novas eleições no final de 2009, desenha-se uma recandidatura do actual presidente e as listas alternativas tardam em aparecer. Nos casos que timidamente vão aparecendo, nota-se um ressurgir da corrente “Damasiana”, assustando os mais antigos sobre o regresso de um dos piores presidentes do Benfica. Por outro lado, a politica desportiva de Luís Filipe Vieira, o constante esbanjar de dinheiro sem o respectivo retorno ao nível de títulos ganhos e uma imagem arrogante e autocrática no exercício do poder, ao puro estilo dos reis absolutistas do século XVIII, fazem temer a reeleição de um homem que, tendo sido importante numa viragem do Benfica, é hoje parte do problema que existe no Benfica.
Os portugueses são tidos como passivos e pouco empreendedores, conformando-se com as dificuldades e assobiando para o lado. Mas algo pode mudar, devemos mostrar que todos podemos fazer a diferença e que passa por nós mudar essa cultura. Começamos a ver movimentos independentes nas presidenciais, nas eleições autárquicas, porque não um movimento no Benfica de sócios anónimos, válidos e que procuram o melhor para o seu clube.
O primeiro objectivo será reunir assinaturas que permitam criar uma lista para as próximas eleições. Depois, definir um programa eleitoral e as pessoas disponíveis para dar a cara por este projecto. Finalmente, discutir os problemas do clube abertamente, com transparência e frontalidade, procurando as melhores soluções. Afinal, “O Benfica somos nós”.